Biografia

Jesualdo Cavalcanti Barros nasceu no dia 18 de fevereiro de 1940, na Fazenda Malhada, povoado Caxingó da zona rural de Corrente, cidadezinha então isolada no extremo sul do Piauí. Seus primeiros horizontes foram as serras que formam os vales dos rios Paraim e Corrente. Filho de Sebastião e Iracema, integrava uma prole de 16 filhos, dos quais 15 chegaram à idade adulta. Iniciou seus estudos no Colégio Imaculada Conceição, quando a família se transferiu para o centro urbano de Corrente, passando a residir no casarão de esquina da Avenida Getúlio Vargas. (Fig 01). O tempo corria entre as peraltices na escola e as férias e finais de semana aproveitados na Malhada, ouvindo o ranger do engenho puxado pelo gado manso e os banhos nas águas geladas do rio Paraim.

Em 1954 foi a Goiânia com a mãe para um tratamento médico, permanecendo lá por 4 anos, residindo com a Irmã Gildete e o cunhado Doam. Nesse tempo fez o curso ginasial no Colégio Dom Bosco. O ensino médio cursou no Liceu Piauiense,  onde participou ativamente da política estudantil, de 1958 quando chegou a Teresina,  a 1961. Nesse período presidiu por duas vezes o grêmio estudantil e a UPES (União Piauiense dos Estudantes Secundaristas), bem como a vice-presidência da UNE. Na mesma época, presidiu o Centro de Estudos da Mocidade Idealista do Piauí, que reunia jovens de sua geração em torno da discussão dos problemas do Piauí e do Brasil. Em 1962 ingressou na Faculdade Federal de Direito e foi eleito vereador de Teresina, como representante do movimento estudantil (Fig 02). Foi cassado em 1964 pelo movimento militar.

 

Com os direitos políticos suspensos, dedicou-se ao estudo e a própria defesa nos processos da Justiça Militar.  Bacharelou-se em direito em 1966 (Fig 03), especializando-se em direito administrativo. Fundou e dirigiu um escritório de consultoria de administração municipal (1967/1979), que logo adquiriu grande clientela. Neste período integrou a diretoria da OAB/PI.

Em 1970 casou-se com a professora Maria do Perpetuo Socorro, (Fig 04) e chegaram os filhos: Jesualdo Filho (1972) e Juliana (1973). Em 1978 nasceu a caçula Marina. Anos mais tarde chegaram os netos, que completaram a plenitude da vida familiar: Alice, Mariana, Luiza, Laura, Matheus, Beatriz e Augusto. Com a abertura política, e a intensa interação que mantinha com políticos municipais, voltou o interesse pela política: no pleito de 1974 candidatou-se a deputado estadual, ficando na terceira suplência. Convidado pelo titular, assumiu a subsecretaria de Indústria e Comercio do Estado, onde demonstrou sua particular aptidão como gestor público.

 

 

No pleito de 1978 foi eleito deputado estadual, marcando sua atuação pela defesa dos interesses dos municípios da região sul. Mas atendia e representava vários outros municípios, uma vez que havia recebido voto em praticamente todo o Estado. Nesse tempo organizou e pôs no ar a Rádio Progresso de Corrente, emissora de onda média, pioneira na área e única a partir de Floriano. Em 1982 foi eleito novamente deputado estadual. Convocado, assumiu a Secretaria de Cultura, Desportos e Turismo do Estado (Fig 05). Promoveu muitos eventos e construiu grandes obras, onde se destacaram: reforma da rede de museus, rede Rimo de hotéis e pousadas, Casa da Cultura de Corrente, Museu Maria Bonita em Floriano, Casa do Cônego em Oeiras. De grande impacto na cultura foi o Projeto Petrônio Portella, que resultou no lançamento de muitos livros de autores ou temas do Piauí. Registrou esse momento na publicação “Tempo de Cultura” (1985).

No embalo dos grandes movimentos cívicos que varreram o país a partir de 1982, foi eleito deputado federal constituinte, assinando a Constituição-cidadã promulgada em 1988 (Fig 06). Durante o mandato atuou intensamente na defesa do Piauí, em particular da região sul do Estado. Liderou a criação da FESPI, conseguindo recursos junto ao Ministério da Educação para a construção de amplas instalações de ensino, em terreno cedido pelo Instituto Batista Correntino, destinadas à  implantação dos cursos de Pedagogia e Agronomia, que passaram a funcionar a partir de 1992. Mais tarde, estes prédios, máquinas e laboratórios foram cedidos à UESPI, se constituindo no hoje Campus Dep Jesualdo Cavalcanti, em Corrente. Também nesse período, organiza como sócio majoritário e põe em funcionamento, a Rádio Cultura do Gurgueia, com sede em Bom Jesus.

 

 

Eleito novamente como deputado estadual no pleito de 1990, foi escolhido por seus pares para a presidência da Assembleia Legislativa, de 1991 a 1992 (Fig 07), quando implantou o terceiro pavimento do Palácio Petrônio Portella, sede do Poder Legislativo, e desenvolveu uma eficiente política de modernização administrativa e moralização daquele Poder.

Em 1994 foi indicado pela Assembleia como conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Piauí. No mesmo ano, foi escolhido presidente da casa (Fig 08). Durante os dois mandatos como presidente, modernizou a administração e, graça ao apoio e à colaboração decisiva dos demais conselheiros, o TCE/PI atingiu um alto nível de autoestima e de consideração pública. Depois da construção da nova sede e de concluir o segundo mandato como presidente, aposentou-se em 2002. Em 2003 publicou o livro “Tempo de Tribunal”, onde relata sua trajetória de muito trabalho naquela Casa.

 

 

Afastado de funções públicas, dedicou-se ao estudo da história, da geo-política e das potencialidades do Piauí, em particular da região do Extremo-Sul. Defendeu com veemência a criação do Estado do Gurgueia, sonho que acalentou a vida toda e pelo qual lutou em todas as oportunidades (Fig 09). Junto com um grupo de entusiasta da ideia, fundou o CEDEG (Centro de estudo do Gurgueia), uma organização não governamental destinada a promover ações de divulgação sobre o tema. Também escreveu livros, ensaios e artigos em defesa da criação do novo estado. Antes, já havia publicado os livros “O Estado do Gurgueia e outros temas” (1995) e “Notícias do Gurgueia” (2002). Após a aposentadoria, e baseado em ampla pesquisa, publicou dois importantes livros sobre a cultura e pertinência da ideia da criação do Estado do Gurgueia: “Dicionário enciclopédico do Gurgueia” (2008) e “Gurgueia: espaço, tempo e sociedade” (2009).

 

Entusiasta da História do Piauí, e estudioso do tema desde o tempo de estudante, dedicou-se inteiramente à pesquisa de documentos no Arquivo Público, como também realizou pesquisas de campo, nos acervos das igrejas da região, em  especial nas de Corrente e Parnaguá. Também buscou o acervo documental de particulares, e empreendeu entrevistas com idosos que haviam testemunhado fatos importantes. Fruto desse intenso trabalho, publicou em 2005  o livro  “Memória dos confins” (Fig 10), revisando o processo de criação dos municípios de Parnaguá, Bom Jesus, Gilbués, Santa Filomena, Floriano e por fim Corrente, pioneiros na colonização da região do Sul do Estado. No livro defende uma nova tese: a colonização do Piauí chegou pelo sul, tendo como ponto de partida o município de Parnaguá, que guarda os primórdios da civilização do boi. Em 2008 publicou uma segunda edição do livro. Em 2009 foi escolhido membro da Academia Piauiense de Letras, grande estímulo para seu trabalho como historiador. Fruto da mesma linha de pesquisa, publicou em 2011 o livro “Sertões de bacharéis”, focado em personalidades públicas vividas entre os anos de 1759 e 1889.

 

Nunca perdeu seus vínculos com o povo de Corrente, se mantendo atento às suas necessidades e sonhos. Em 2012, com 72 anos, resolveu voltar a política, diante da situação catastrófica da administração de Corrente, sua terra: foi candidato a prefeito e, após memorável e emocionante campanha, saiu vitorioso. Cuidou de recuperar a administração municipal combalida, com especial ênfase à Educação e a Saúde. Encerrou seu mandato em 31 de dezembro de 2016: deixou exemplo, muitas obras e uma nova esperança de futuro (Fig 11).

Faleceu em Teresina, em 22 de fevereiro de 2019, cercado do amor da família, a consideração e o respeito dos amigos e de todos que o conheciam. Após sua morte, foi publicado o livro “Tenho dito”, coletânea de discursos que havia deixado pronta. Em 2024 foi publicada a terceira edição de “Memória dos confins”, com lançamento em Teresina e Brasília. Entre inúmeras homenagens que recebeu, destaca-se o panegírico da Academia Piauiense de Letras, realizado em 2019, tendo como orador oficial o imortal Hugo Napoleão (Fig 12) .

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